A Ludovic é um grupo formado na primeira década do século em São Paulo, influenciados pelo punk, indie e noise rock. A banda é uma das mais importantes para o cenário underground da época — e atual —, pois influenciaria grande parte das bandas que viriam a surgir na próxima década, como a Lupe de Lupe e o gorduratrans.
Em celebração aos 20 anos de lançamento de seu álbum de estreia, Servil, a banda volta a estrada após 7 anos de sua última turnê, fazendo shows que passam por Curitiba, Florianópolis e Rio de Janeiro.
O show que aconteceu em Curitiba foi realizado no bar Belvedere, um espaço que fica no coração do rolê curitibano e o evento não poderia ter rolado em outro lugar que não esse. Cheio de pessoas jovens, mais velhas, gente que nem era nascido quando a Ludovic estava dando seus primeiros passos.
O evento da reviravolta
Apesar de ser uma banda que tem mais de 20 anos de experiência, o evento contava com pessoas de diversas idades, o que mostra a relevância da banda ainda nos dias de hoje, mesmo depois de 20 anos do álbum lançado, e mesmo depois de 7 anos de sua última turnê. Com a casa lotada, depois de muitos stage dives e moshs aquecerem tanto o público que fez parecer que o frio de 1 grau de Curitiba era apenas um delírio coletivo. Jair nos contou uma história inusitada sobre a experiência da banda com a cidade:
“O ano era 2008, a gente colou em Curitiba pra realizar um show em um bar e, infelizmente, acabamos sendo passados pra trás pelo proprietário, que tinha prometido algumas coisas e não cumpriu. Tivemos que dormir na rodoviária - e a rodoviária que vocês tinham na época não era essa bonitinha de hoje -, e a gente se questionou se era certo continuar ou se a banda tinha dado errado e era melhor a gente desistir de uma vez (...)”
A curta história já nos dá um panorama de dúvidas, incertezas e frustrações; mas que são datadas, já que a banda em poucos dias de anúncio da sua turnê esgotou todos os seus ingressos na capital paranaense. Isso nos dá ainda mais garantia de que seus questionamentos na época, apesar de válidos, foram refutados pelo resultado do trabalho e esforço dos seus membros para manter a banda ainda em pé. A auto realização em ver seu trabalho sendo reconhecido se torna ainda maior e mais intrigante - como se, quase fosse ironia do destino - quando um fã grita da plateia:
“A casa de show que você tá falando ficava aqui mesmo em 2008.”
E eles estavam lá no palco. Assistindo a um rio de pessoas no mesmo lugar que, há 16 anos atrás, os fizeram questionar sobre seu propósito.
A energia era inigualável, a presença de palco e a química dos integrantes torna o espetáculo ainda maior, sem nenhuma vergonha de mostrar quem são. Trazendo a mensagem inicial do punk rock, enquanto que os gritos de Jair se misturam com o coro hiperativo da plateia, as guitarras de Zeek e Eduardo se entrelaçam a um ponto que já não dá pra identificar qual é qual; a banda entra em unidade e a energia se torna única naquele lugar, tornando-se quase que impossível ficar parado.
A mensagem de Servil
Servil trás uma atmosfera de urgência, com guitarras que transitam entre dissonância e acordes melódicos, inserindo mensagens sobre desespero, descontentamento e deslocamento social, que podem ser enxergados nas letras de Jair Naves, vocalista e baixista da banda.
A sonoridade dissonante pode nos remeter a bandas como o Sonic Youth, porém o grupo consegue ir muito além, nos fazendo enxergar da perspectiva de Jair, que retrata a vida e pensamento do jovem brasileiro, com elementos que chegam muito mais perto da realidade em que vivíamos - e, infelizmente, ainda vivemos - trazendo críticas ao conservadorismo que, desde sempre, se torna um sistema no qual estamos inseridos.
Sua voz e seus gritos de desespero em meio a guitarras melódicas e pesadas soam quase como um tapa na cara, enquanto que seus vocais vão gradativamente deixando de serem apenas melodia e se tornam um discurso, uma fala, uma ideia que, antes era apenas um pensamento e se torna realidade, se torna parte não apenas da banda, mas também de muitos jovens ao redor do país que se identificam; não apenas pelas guitarras densas, mas pelo discurso que esses os quatro tinham e sempre tiveram a dizer.
Por que Ludovic continua atual?
Mensagem, letras, estilo, guitarras, baixo e bateria.
Ao mesmo tempo que há diversos motivos a tornar Ludovic uma banda tão atual, a maior verdade é que eles nunca deixaram de ser. Se a banda tivesse surgido vinte anos antes de seu nascimento ou, até mesmo, se lançasse seu primeiro álbum hoje, em 2024, ainda teria a mesma relevância e engajamento que possuem desde que estavam em estágio embrionário.
Seja porque o pessoal da banda é muito acessível até nos dias de hoje, porque influenciaram bandas importantíssimas para o cenário na década de 2010, pelas ideias que carregam consigo, as pautas que defendem ou mesmo porquê mesmo após décadas de ter surgido, o punk rock continua e sempre continuará relevante.
E não dá pra apenas dizer que a banda “envelheceu bem”, pois seria quase que ofensa dizer uma coisa dessas; tanto seus discos Servil quanto Idioma Morto, não estão presos à época em que foram lançados, e fazem da banda ser quem ela é: pertinente, motivadora e, acima de tudo, atemporal.
Baita banda.
Ainda que eu prefire o idioma morto, concerteza o servil é um excelente album. Tenho ainda o dvd do kool metal fest, onde o jair da um sermao regular na mulecada. Sensacional.
Que showzao
De vdd,pra mim o melhor do ano até agr,os caras mandam muito.