Há 10 anos, a banda Tópaz lançava o que seria o seu quarto e último disco de estúdio propriamente dito. O álbum Nós Somos os Piores foi lançado em outubro de 2014, com letras que falam sobre superação, amor, procrastinação, esperança e um pouco de niilismo e pessimismo. Basicamente jovens cansados e decepcionados com a vida escrevendo músicas.
Beleza, mas que banda é essa?
Tópaz é uma banda de rock que nasceu em 2003 nos confins de Porto Alegre, em Cachoeirinhas. O grupo era originalmente composto por Alexandre Nickel (vocais e baixo), Cris Möller (guitarra e vocais), Gustavo “Gigante” Zuchowski (guitarra) e Pedro “Toledo” Ramos (bateria).
Lançaram o primeiro disco somente em 2007, com o título Outra Direção, que contou com a participação de ninguém mais, ninguém menos que Lucas Silveira, da Fresno, na faixa “Biografia”. O equivalente a um single atualmente. A música tocou por bastante tempo nas rádios e isso fez com que eles ganhassem certa notoriedade na cena.
Em 2010, lançaram o segundo disco intitulado III (Terceiro), casa de pedradas como “O Maior Idiota do Mundo” e “Música Sem Nome”. É engraçado o disco de número 2 já se chamar terceiro, e numa dessas que o Gigante foi questionado sobre a escolha do nome, ele deu a seguinte resposta:
“muitas bandas que fazem sucesso com o primeiro disco ficam tão empolgadas com as apresentações que fazem do segundo disco um merda. Então, decidimos que íamos 'pular' o segundo e ir direto pro terceiro”
Já em 2011, rolou o lançamento de Onze Nós, agora de fato o terceiro álbum da banda. Com as faixas “Se For Pra Tudo Dar Errado”, “Sem Garantia e com Defeito” e “Suicídio ao Contrário”.
Nós Somos os Piores (2014)
Nós Somos os Piores é o quarto álbum de estúdio per se da banda. Porque com menos de duas semanas de lançado, um fato trágico fez com que precisassem dar uma pausa na agenda. O guitarrista Cris Möller sofreu um acidente e ficou em estado gravíssimo, ficando internado por meses e até mesmo em coma induzido. Mais tarde entro nesses detalhes e o que se sucedeu.
Este álbum é muito significativo para os fãs da banda justamente por este motivo. Ele é carregado de letras que falam diretamente conosco e toca onde dói, como é de praxe em discos de artistas que nos identificamos. Sem clubismos por aqui.
A primeira faixa, chamada “O Roteirista”, traz a temática da desilusão, a descrença e a falta de esperança em si. O refrão que inicia o disco já escancara as portas na nossa cara e nos atiça a ver o que eles têm mais a dizer no restante do álbum.
Se tá ruim pra Deus
Imagina pra mim
Que sou de verdade
Mas ninguém acredita
Em “Quando a Gente Cresce”, Tópaz já nos enche de emoção com questionamentos que temos desde criança, mas não obtivemos a resposta mesmo após adultos. ‘De onde a gente vem? Por que estamos aqui?’ e ‘Onde dorme o sol? Lá tem cobertor?’.
Ou se descobrimos as respostas, elas não fazem tanto sentido assim. Afinal, estamos sempre ‘fingindo saber o sentido da vida’, mas ‘Quem sabe um dia um de nós acerta’.
“Duas Rodas ou Altar” é a terceira música, que eu diria, é a mais otimista e curiosa desse trabalho. Ele se refere a alguém em busca de algo para si, em busca de ser um indivíduo melhor. Mas por mais que ele se perca, não há nada pior do que não saber onde se quer chegar. Ele se sente perdido de certa forma, porque sempre que alcança ao objetivo, nunca o satisfará completamente.
A parte curiosa dessa faixa é que a própria banda já afirmou ser sobre um cachorro. Sim, isso mesmo um cachorro. Um cachorro que corre atrás das rodas de moto (daí vem as duas rodas do título) sem parar para tomar um ar, que chama diversos outros aumigos para o acompanhar nessa jornada. E a alusão fica ainda mais clara nos versos ‘Estudos apontam que eu não sei de mim, nem de ninguém’ que declaram que cachorros são, de fato, animais irracionais.
Já em “Saudade de Sentir Saudade”, eles abraçam o emo triste e cantam o famoso “saudade do que a gente não viveu”. Seja por um término de relacionamento, seja por uma amizade que não deu mais certo, todos nós já sofremos alguma vez. Por mais que a gente tente ter algo parecido, não dá. É impossível. Ter alguém importante para substituir e compartilhar histórias com outras pessoas.
Além de essa faixa ser uma das mais belas do disco, ela carrega a frase maior carga emocional desse álbum: ‘Eu me sinto a criança solitária na gangorra que o amigo imaginário recusou’.
“Mais Difícil Que Escrever Macaulay Culkin” é um grandíssimo vai tomar no cu para todos os que chegam dando conselhos vazios sem que ninguém tenha solicitado, oferecendo soluções para problemas que nem existem e cuidando da vida dos outros. ‘A sua certeza absoluta é um documento registrado que comprova você não sabe nada’. Conhece alguém assim? Manda essa música para essa pessoa.
A sexta faixa, “Uma Palavra (ÄCELUMDISPERILOSIUOSO)”, é dedicada a todos os apaixonados do Brasil. Quando você ama tanto alguém que extrapola todas as fronteiras e os limites demarcados, que precisa inventar uma palavra para descrever o que vocês têm. ‘Preciso inventar uma palavra amor não é. Que mesmo falando baixinho você escute de qualquer lugar’.
O título da sétima música do disco é intitulada “Essa Música É Romântica E Assustadora O Suficiente Pra Te Deixar Confuso(a)” e é basicamente a nossa “Every Breath You Take”. Uma letra que fala sobre um stalker, disfarçada de canção de amor. Seria facilmente tema da série You se existisse uma versão brasileira.
“Nós Somos os Piores”, que dá o nome ao álbum, é a história de um enemies-to-lovers meio mórbido. Com os versos que abrem a canção já dando o tom de um ódio mútuo entre as pessoas envolvidas ‘Nos odiamos de uma forma que não dá pra demonstrar com raiva. Maior que todas as palavras’. Que curiosamente também conversa com a faixa Uma Palavra (ÄCELUMDISPERILOSIUOSO), seria necessário criar uma palavra que esteja acima do ódio para descrever o quanto se odeiam?
“Terça” é a penúltima canção do disco sendo dedicada a todos nós meio procrastinadores, meio marquei rolê no meu momento extrovertido e agora não quero mais. Afinal ‘Nada é melhor do que adiar pra sempre’.
A última faixa do disco, “O Mundo é Nosso”, tem um tom bem romântico emocional com aquela promessa de dar o mundo para a pessoa amada, nada e ninguém irá estragar esse amor, só você e a pessoa amada contra o mundo. ‘O mundo é nosso, fui eu que roubei’.
O súbito fim da banda
Algumas semanas após o lançamento de Nós Somos os Piores, o guitarrista Cris Möller sofreu um acidente gravíssimo de moto, sendo necessário ficar internado por meses, em coma induzido, e as atividades da banda precisaram ter uma pausa por tempo indeterminado.
Para custear o tratamento, incluindo sessões de fisioterapia após a alta do músico do hospital, os amigos da banda lançaram um disco especial com regravações de músicas dos álbuns anteriores em versão acústica. O disco chamado Ao vivo em Marrocos, contou com participação de Lucas Silveira, Vitor Isensee, do Forfun e outros colegas da Supercombo, Nenhum de Nós e d’A Banda mais Bonita da Cidade. Todo o dinheiro da campanha foi revertido para o tratamento do Cris.
A tentativa de um retorno
Passados 3 anos da pausa repentina, Nickel e Toledo tentaram retornar às atividades musicais com o projeto de lançar uma música por semana. Lançaram até uma campanha no catarse para os fãs poderem colaborar, mas só durou cerca de doze semanas.
Após isso, a banda encerrou suas atividades sem uma despedida propriamente dita. O Toledo, que também era guitarrista da Supercombo, focou neste projeto maior. Nickel, abriu uma agência de podcasts, e hoje produz dezenas de programas para todos os gostos.
Embora a Tópaz não faça mais músicas, eles continuam nos fones dos fãs e tocando o coração de novas gerações que o descobrem tardiamente. Se você ainda não os conhecia, dê uma chance. O emo que habita em mim, saúda o emo que habita em você!
Saudades. Conheci essa banda só em 2017, se não me engano, mas fez parte da minha adolescência melancólica
Melhor correspondente especial da Repeteco, falo com tranquilidade